Programa "Las Violetas de Bronka, botando lenha na fogueira."
Como você conheceu a Rádio Bronka?
Domi - Conheci através da Coordenação contra os abusos de Poder. Era uma coordenação de ajuda a presos e pessoas que tinham problemas com a “justiça”, especialmente, mas também contra todo tipo de abusos: judiciais, administrativos, trabalhistas, etc.
A Rádio Bronka convidou o advogado Francesc Arnau para apresentar um programa para denunciar o que estava acontecendo com os julgados em toda a Administração da Justiça. O programa se chamava Juízo da Justiça, e creio que assim segue sendo chamado e transmitido.
No ano de 1997 ou 98, comecei a colaborar com esse programa e foi assim que conheci a Rádio e seu pessoal.
E acabou fazendo um programa próprio…
Domi - Sim. Na realidade não me lembro se fui eu que propus ou se foi alguém da rádio que me propôs, mas quando estava no programa observei que havia na rádio muito poucos programas de mulheres e faziam mesmo falta. Nós mulheres tínhamos muitos problemas. Seguimos tendo! Muitos problemas que não eram tratados concretamente. Independentemente de quem partisse a iniciativa de fazer um programa de mulheres, me parecia que podia ser interessante e esse foi o início das Violetas…
A partir daí comecei a tomar mais parte da rádio: ia às assembleias, fazia limpeza, pagávamos a cota de manutenção do espaço e dos equipos… Ainda que, devido aos meus horários de trabalho eu realmente não cheguei a estar tão presente quanto outras pessoas.
Como foi acolhida a proposta do programa na Rádio Bronka?
Domi - A proposta de fazer um programa com mulheres foi bem acolhida pelas pessoas da Rádio, em geral lhes pareceu interessante. Isso me estimulou e comentei com duas companheiras de trabalho que rapidamente se juntaram, sem necessidade de convidá-las… Ah, sim: uma Rádio! (risos).
Propous a participação de Isabel Ferragut, que passava pelo problema da morte de seu filho, Arturo, devido a experimentos médicos sem escrúpulos. E aceitou de imediato. Ela tinha muito interesse em denunciar as negligências e os abusos dos médicos, dos juízes e dos políticos em geral. Esteve desde o primeiro até o último programa.
Como surgiu o nome do programa?
Domi - Bem, eu queria que se visse implicitamente no nome do programa que era de mulheres. Me dava um pouco de medo de parecer que éramos um grupo de feministas radicais porque a rádio era integrada por uma maioria de homens. Mas ainda assim, queria isso: que tivesse algo que fizesse alusão a que se tratava de um programa feito só por mulheres. E ao mesmo tempo dissesse que não era exclusivamente para mulheres.
Para mim, o violeta é sinônimo de feminino e uma homenagem àquelas 129 mulheres que morreram em 1909 queimadas pelo dono de uma fábrica de algodão onde trabalhavam em Nova Iorque. Reivindicavam melhorias no trabalho. E também em memória de todas as mulheres que haviam lutado por igualdade entre homens e mulheres, e pela igualdade e liberade de todas as pessoas.
Além disso, também buscava algo que dissesse que vínhamos para dar bronka, para botar lenha na fogueira da insubmissão e da luta política… De modo que, conversando sobre violetas e sobre “dar caña, uma noite, com um companheiro da Rádio, Miguel Ramón, saiu o nome assim: “As Violetas de Bronka, botando lenha na fogueira”. Se bem que… bem… (risos). Eu creio que alguns caras nos olhavam meio torto pelo fato de nos chamarmos Violetas. Creio que isso lhes fazia ter um pouco de desconfiança, que lhes induzia a pensar que éramos feministas radicais. Ainda que a mim me não me importa que me considerem feminista radical… Eu sou feminista sempre que quero, e quando quero, também sou radical. Se bem que me considere especialmente defensora dos direitos humanos. E, evidentemente os direitos humanos mais lastimados e inexistentes são os das mulheres, crianças, idosos e os dos imigrantes. As pessoas que estão nas piores circunstâncias sociais, porque os Poderes têm interesse em manter essas circunstâncias de desigualdade e exploração.
Como foi o começo do programa?
Domi - Pois começamos a transmitir no dia 10 de março de 2000. Era um programa semanal, emitíamos às sextas-feiras das 18h30 às 20h.
Começamos com quatro. Minhas companheiras eram Isabel Ferragut, Lupe e Ofelia; mais tarde se juntou Manuela. Naquele tempo, Ofelia teve que nos deixar por razões familiares. De modo que quase sempre fomos quatro.
No princípio não conhecíamos a técnica dos comandos para transmitir. Apenas Manuela conhecia um pouco porque em seu país, Alemanha, também havia feito um pouco de rádio. Assim, tivemos que aprender tudo… Não sabíamos usar nem o microfone! Mas começamos a manejá-lo, tanto os dispositivos quanto o mixer… Logo, aos sábados pela manhã estive durante um tempo fazendo a técnica com Chus, do programa “A Mala Ostia”. Ele fazia sozinho e eu cuidava dos equipo e me encarregava de mixar enquanto ia lhe ensinando a fazer as duas coisas… Mas Chus morreu antes de poder se encarregar de tudo sozinho…
Quando começamos, usávamos fitas cassete. Depois passamos ao CD, que foi uma aventura para nós. Mas aprendemos bastante rápido e foi tranquilo.
Do que tratavam no programa?
Domi - Tínhamos vários assuntos. Normalmente, começávamos com uma retomada das notícias da atualidade, sobretudo o que os meios de “informação” ou não haviam informado ou haviam tergiversado e manipulado.
Tentávamos dar uma visão não oficial sobre a imigração, as lutas da gente trabalhadora. A situação das prisões nacionais e estrangeiras, de mulheres e homens, E todo tipo de abuso de poder.
Havia outro tema das negligências e abusos médicos e judiciais contra todas as pessoas e em geral contra as mulheres em particular, destacando frases machistas e descaradamente injustas, e até ilegais, contra as mulheres agredidas por seus companheiros, por um desconhecido, por seus chefes e também por médicos e pessoal sanitário masculino.
E tratávamos de um assunto, que a mim me gostava especialmente, que eram biografias ou comentários sobre mulheres que a História praticamente havia ignorado ou taxado de putas, loucas ou santas. Nesse último caso estava Sor Juana Inés de la Cruz, uma mulher tão clarividente e revolucionária que decidiu ser monja ante de levar a vida como mulher civil obrigada a se casar, de acordo com a expectativa da sociedade de seu tempo.
Também falávamos das maquis, das mulheres que tornaram possível a sobrevivência das maquis, e também algumas mulheres que se somaram aos montes com o fim da Guerra Civil para seguirem lutando contra a ditadura franquista ou simplesmente para não perderem sua liberdade. E, falamos, como não, da prisão das mulheres no pós-guerra, da Concepção Arenal e de outras mulheres e fatos…
Como era a interação com as pessoas que escutavam?
Domi - Naquele tempo, a Rádio Bronka não recebia muitas ligações. Mas apesar disso, frequentemente tínhamos uma ou duas durante nosso programa. E isso era muito estimulante. Eram apenas chamadas participativas e de apoio que expunhamos. As vezes, chamavam por algo que estávamos falando e queria saber o editorial ou queriam saber mais coisas. Eram chamadas de apoio, mas era bastante satisfatório. Assim, a maioria das pessoas que chamavam eram homens… Talvez porque a maioria dos ouvintes de Bronka fossem homens.
Traziam convidadas ou convidados ao programa?
Domi - Sim, sim. As vezes, vinha alguma pessoa explicar sua própria experiência. E em outras, convidávamos alguém para explicar melhor algum tema do que queríamos falar especificamente. Também fazíamos chamadas a alguma pessoa que estava envolvida em algum dos temas que falávamos.
Entrevistávamos tanto homens quanto mulheres. Era curioso como telefonicamente as mulheres tinham bastante dispobibilidade, mas no caminho para a rádio, parece que os homens tinham mais disponibilidade (risos).
Quando finalizaram o programa?
Domi - Creio que finalizamos em 2002, estivemos dois anos direto no ar… Quase três. E paramos por questões de trabalho e pessoais, que se tornaram incompatíveis com o programa. Poderíamos ter mudado de horário, mas realmente para algumas pessoas era difícil prosseguir, tendo em conta ainda que a Rádio estava na maior pindaíba… (risos).
Uma coisa que se destacava no programa era que se compunha de diferentes gerações. Algumas pessoas tínhamos vinte e poucos anos, outras com 12, ou seja, que realmente éramos gente diversa, incluindo mentalidade e ideias políticas. Mas tínhamos em comum o sentido crítico e de justiça, creio que por isso pudemos fazer o programa por dois anos e pouco…
Gostaria de falar algo mais?
Domi - A mensagem que gostaria de transmitir seria que as pessoas se animem a fazer coisas: rádio, grupos, o que seja! Uma rádio é bom um sistema de envio de mensagens, um bom sistema de mobilizar pessoas, de dar informação real. Na realidade, as pessos têm muito menos informação do que pensamos, apesar de que agora haja as redes sociais e se possa saber de tudo. Certo que também se pode dizer que as pessoas estejam desinformadas porque preferem não se informar… preferem ver programas bestas, não sei como diabo se chamam, do que escutar a Rádio Bronka ou ver um documentário ou um debate onde se está falando criticamente de todo o problema social que nos estão criando.
E para terminar, a quem você crê que teria de entrevistar na Rádio?
Domi - Penso que deveria ser imprescindível ter a opinião de toda a maioria das pessoas que a fizeram funcionar, mas imagino que você já esteja fazendo.
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25 Años de Radio Bronka.
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